31 dezembro 2023

Louça de Final de Ano

" Gente! Ele morreu!!!!"

Durante o período de festas do final de ano, duas classes de pessoas são encontradas (e suas ramificações também): aquelas que viajam e retornam no “day after” e aquelas que trabalham exatamente na véspera de Natal ou Ano Novo. Algumas características são comuns, como não dormir a noite inteira, estar exausto no dia seguinte, não encontrar nenhum restaurante aberto para o almoço, não aproveitar a praia (se for o caso), além de algumas outras coisinhas individuais. De diferente, aquelas que viajam enfrentam o engarrafamento interminável das estradas, a dor de cabeça da ressaca, o mau humor de alguns companheiros/parentes de viagem, dentre outras coisas; os que trabalham só consideram tudo mais um dia, como qualquer outro. Por sorte, o dia 31, neste ano, caiu no domingo e o almoço inclui maionese no hospital onde trabalho.

Nessa última classe estão os plantonistas, nossos “anjos da guarda” (bom... há controvérsia porque a qualidade desses médicos atuais anda deixando a desejar e "da guarda" pode ser substituído por "da morte" em alguns casos). Eles que limpam as merdas (ou as pioram) que fazemos e resolvem (será?) nossos problemas em caso de necessidade. 

Jamesvaldo, o James (a pronúncia é “djeimes”), residente de primeiro ano de um hospital geral, foi o sorteado para o trabalho da virada do ano. Chegou em casa, pela manhã, certo de que cumprira sua função (suturar vários pés cortados de mocinhas de vestidos brancos e curtos que tiraram seus saltos na praia, prescrever hidratação com glicose para aqueles que não dirigiam, mas bebiam sem parar, atender casos sem qualquer indicação de urgência e outros realmente urgentes, etc) tendo absoluta certeza que não ia colocar, nas redes sociais, nenhuma zoação sobre qualquer paciente, quer aqueles com nomes estranhos (ele entende bem desse problema), aqueles com histórias esdrúxulas e queixas absurdas que também procuram atendimento ou aqueles que, eventualmente, o médico tem vontade de rir (ter vontade é direito de todo mundo; contar isso já é falta de respeito, principalmente na Internet, como infelizmente observo por ai). 

Morava com mais quatro amigos, que ainda estavam na faculdade, e nenhum era acadêmico de Medicina, sendo que havia também um aluno de intercâmbio. 

"OMG! WTF! Call 911!"

Esses amigos foram festejar numa casa de festas próxima e emendaram na praia, de roupa e tudo, chegando em casa só lá pelas duas da tarde, do primeiro dia do ano, ainda acompanhados de desconhecidas sem nome que conheceram na balada. Foi uma dessas desconhecidas que deu o primeiro grito lá em cima. 

Ainda muito ligado devido ao plantão e já decidido a comer um risoto de pacote com algumas salsichas em lata (também chamadas de “vina” em algumas localidades mais ao sul do país), tomou um banho e resolveu “dar uma limpa” na papelada bagunçada do ano findo até a adrenalina baixar (isso só quem é médico sabe como é). Derrubou caixas de papelão, contas bancárias, folhetos sem uso e saiu rasgando tudo e empilhando. Confusão armada, ele mandou ver no risoto e tomou aquela cervejinha porque ninguém é de ferro. Consequentemente, a adrenalina baixou e ele resolveu deixar para arrumar a zona depois do cochilinho mais que merecido. 

"Vamos ligar para o SAMU!"

A pilha de caixas era enorme, assim como de papel picado. Arrumou um espaço na cama, deitou e dormiu. Só que, do lado de fora do quarto, dependendo do ângulo, a visão era de um sujeito “afogado” em papel somente com a mão visível na superfície do “mar” de celulose. 

"Melhor ligar para a polícia mesmo!"

A discussão na sala era enorme, pois nenhum dos colegas possuía discernimento, depois do grande período na esbórnia. A confusão era total: as desconhecidas gritaram, desmaiaram, deram vários pitis e isso tudo durou até o momento que a mão do James desapareceu, do monte de papel, e ouviu-se uma descarga de banheiro. Silêncio total, aparece nosso herói de cueca samba-canção e sem camisa, coçando o saco e ajeitando a vestimenta, e reclamando:

- Porra galera! Foda hein! Dá pra fazer silêncio? E vê se alguém lava a louça!


Eu sou doc 

24 dezembro 2023

Uma Noite de Natal

No início do mês eu falei da antologia e hoje, véspera de Natal, eu deixo aqui o texto que faz parte do "Uma Noite de Natal". Recebi os livros há alguns dias e são vários textos muito legais de vários autores... então vamos lá!

Um Doce de Natal

As festas de final de ano possuem diversas conotações de acordo com as crenças de cada um: podem ser um momento de reflexão, de pedidos, de distribuição de presentes (onde entra o Papai Noel) e também de celebrações religiosas. Independentemente do que cada um pense, o que é certo é a ceia natalina, repleta de guloseimas, e o “enterro dos ossos”, no almoço do dia seguinte.Famílias e amigos se reúnem e comemoram da forma que melhor se encaixar nas suas convicções. 

O Natal na minha família sempre foi comemorado com alguma festividade. Quando eu era criança, a festa acontecia na casa da minha avó e íamos meu pai, minha mãe, meu irmão e eu, claro. Antes de sairmos para lá, havia um momento inesquecível: Papai Noel, em pessoa, aparecia na porta do apartamento e nos entregava presentes. Isso gerava uma briga enorme no jardim de infância (o atual “prezinho”) porque algumas outras crianças não mais acreditavam no Papai Noel e eu sim. Lógico: eu via o sujeito todo Natal! Como não acreditar? Muitos anos depois, eu soube que não era bem o “bom velhinho” que aparecia e sim um representante dele, o porteiro do prédio (acho que o nome dele era Mariano), mas dava no mesmo.

Certa vez eu peguei caxumba justo no Natal. Essa doença causava um inchaço no pescoço, mas o maior problema era “descer”, acometendo “as partes baixas” e levando à infertilidade no futuro. O único jeito de evitar isso era com repouso absoluto, e o percurso de cinco minutos de carro até a casa da vovó já era proibitivo.

Lógico que fiquei revoltadíssimo quando meus pais disseram que não iríamos, mas a situação sensibilizou meus avós e tios e a festa foi transferida lá pra casa. Medo de pegar caxumba ninguém tinha porque a ideia ERA contrair a doença, ao menos para minhas primas. Contaminei todas as crianças da família porque era a forma de criar imunidade antes da idade adulta. Hoje já existe vacina, mas vamos continuar falando de Natal que é bem melhor.

A partir dessa mudança veio uma ideia e a festa passou a ser alternada entre a casa da vovó e a casa do meu tio. Lá em casa era complicado, porque morávamos num apartamento pequeno e havia pouco espaço. Serviu bem naquela situação inusitada, mas nada para virar rotina anual.

Alguns anos depois meus avós mudaram para o interior do estado e continuamos a tradição por lá mesmo incluindo diversos amigos, mas meus tios e primas não mantiveram sua presença. Podemos dizer que criamos o Natal na cidade, pois a festa era uma grande novidade já que não havia nenhuma tradição nesse sentido. Foi evento durante alguns anos, onde minha mãe providenciava algum presente/lembrança para todo mundo que aparecesse (convidado direto ou não). Para isso ser possível, ela procurava possíveis lembrancinhas, nas lojas, no decorrer do ano e fazia um tipo de reserva técnica para que, na hora, ninguém saísse de mãos vazias

Com o tempo a família cresceu, diminuiu e, dos antigos, somente eu, meu irmão e o velho pai ainda estamos por aqui, mas o marco herdado, através de um livro de receitas da mamãe, ficou com o doce que ela fazia no Natal e que meu irmão replica com perfeição. Ele é chamado de “Mil Folhas Falso” e a receita que compartilho hoje, em homenagem à minha mãe, foi copiada fielmente de lá. 

“Forre um pirex com biscoito cream cracker e salpique com uma xícara de leite pingado com baunilha. Faça um creme assim:

1 lata de leite condensado

2 copos de leite

2 gemas

1 colher de sopa de maisena

Leve ao fogo; quando estiver pronto jogue por cima dos biscoitos.

Colocar nova camada de biscoitos pingados com baunilha

Fazer outro creme igual ao primeiro acrescentando 6 colheres de Nescau

Colocar por cima dos biscoitos

Cobrir, para terminar, com chocolate granulado e levar à geladeira”

Depois de pronto é só comer e ser feliz, assim como o Natal. 

Obrigado, mãe!

Eu sou doc

17 dezembro 2023

Natal na Casa do Mago

No meio da Floresta Encantada existe uma casa amarela, onde mora um Mago. Lá também é comemorado o Natal, mas algumas coisas podem ser meio diferentes.

Naquele ano, já passava muito da meia-noite e tudo corria dentro do esperado: os presente já estavam distribuídos e uma ótima ceia já agraciara os convidados (alguns não apareceram, mas é assim mesmo todo ano). Eis que, de repente, um barulho: 

- Ho Ho Ho!

- Ah! Sim! Velho amigo (K)Clown! Chegou tarde, mas tudo bem!

- Bota os óculos, velho Mago, este ano eu cheguei antes dele!

- Você continua ridículo Papai Noel!

Vestindo uma capa de chuva amarela, por cima da roupa tradicional, com um crachá onde se lia “Estado de Greve”, Papai Noel pulou a janela e começou o assunto.

 -Ainda bem que você deixou a janela aberta. Aqui não tem chaminé!

- E o pozinho que a Fada Madrinha entregou pra você?

- Você tem mais um pouco aí? O meu está no fim!

O Papai Noel possui um pozinho mágico, que ganhou da Fada Madrinha, para criar uma abertura nas janelas ou paredes, por onde ele consegue passar e entrar nas casas. 

O Mago pegou um potinho e deixou com Noel, não sem antes perguntar do que se tratava o crachá, já que nem ele e nem as renas era aeroviários, apesar de terem sugerido que as renas eram algo “aero” semelhantes.

- Bom, me pediram isso de Natal e aí estou dando uma força com a divulgação.

O Mago então fez o “confere”: o velho Dragão jardineiro ganhara um regador novo; Guardião, um cajado novo; e assim por diante.

- Veja, Mago: aquele encanto do “princesa voltar a ser fada” é meio complicado. Tem cada coisa que pedem...

- Mas você não foi lá falar com a Fada Madrinha?

- Ela deu um visto provisório que já está em uso. Só que o definitivo tem que passar por muita burocracia; mas ela deu uma dica: princesa transforma sapo em príncipe com um beijo, portanto acredito que beijo resolva isso também (roubado não vale).E você bem sabe que isso não depende de mim né?

- Sim, Noel. Isso está mais para a Fada Madrinha mesmo.

- E o que as meninas pediram? Você não trouxe?

- Leia.

Papai Noel entrega a cartinha que recebera de Ana, Adrielle e Deborah, onde elas somente pediram que o Mago tivesse seus desejos realizados e abriam mão de qualquer outra coisa 

Sem saber o que dizer e o que pensar, ele pediu para que Papai Noel escolhesse os presentes e assim os entregasse o mais breve possível, para que não fosse perdida a magia do momento. 

Pulando novamente a janela, lá se foi Papai Noel na direção do infinito, procurando a lua. 

É quem é o K(Clown)? Isso será história para outro dia.

Eu sou doc 


10 dezembro 2023

Como assim?

Como assim, não acredita em Papai Noel?

Depois de uma longa noite de entrega de presentes, o bom velhinho aterriza o trenó e libera as renas para o descanso merecido. Sua roupa chamuscada (tem gente que não limpa a chaminé e nem apaga a lareira) foi direto para a máquina de lavar e ele para a esteira, tentando diminuir o efeito das toneladas de biscoitos que mordeu durante a noite. 

Feito isso, um bom banho veio a calhar para depois sentar em sua cadeira, onde verificou a repercussão de seu trabalho nas redes sociais.

De repente, uma coruja atrapalhada, de nome Errol, entra pela janela e bate a cabeça na parede, onde sucumbiu e ascendeu ao "corujal" da eternidade (foi assim que aconteceu, mas ninguém contou isso nos livros). Trazia uma "tirinha” com Sofia e Juquinha conversando sobre a crença no Papai Noel.

Imediatamente convocou todos os duendes. Inacreditável a troca de presentes: afinal, onde já se viu dar um espremedor de laranja para uma criança que pedira uma bicicleta? 'Tá certo que nem sempre os presentes são exatamente correspondentes aos pedidos; uma bicicleta pode virar um patinete; uma piscina olímpica é substituída por uma desmontável de 1000 litros; a Catherine Zeta–Jones... bom, nesse caso quem pediu que se foda vai levar nada mesmo.

- E o que demos a ele esse ano? - perguntou Papai Noel.

- Ele não pediu nada, porque não acredita mais. - informou um duende burocrata.

- Mas as pessoas acreditam em bacalhau, chester, tender, por que é tão difícil acreditar em Papai Noel?

Tomou a decisão: colocou uma bermuda vermelha, chinelão, uma camiseta do Flamengo e foi lá procurar o tal Juquinha, levando uma poderosa bicicleta de várias marchas. Ao mesmo tempo, Sofia recebeu um SMS informando a situação:

"Agradecemos a sua mensagem! Estaremos processando sua reclamação e estaremos enviando uma resposta assim que possível. Feliz Natal!"

A menina quase caiu dura para trás, já que nem esperava mais resposta. 

Procurou Juquinha, que tomava um suco de laranja (Ah! Quem disse que o presente não teve valia?), que achou tudo uma grande palhaçada, até que Papai Noel apareceu com seu presente, um ano atrasado. Juquinha ficou contente, Sofia mais ainda, Papai Noel tomou um suquinho e retornou para sentar a porrada para dar uma bronca no duende atrapalhado, lá no Polo Norte, não sem antes aproveitar uma praia em Ipanema, nesse belo dia de sol.

Eu sou doc

03 dezembro 2023

Contos de Natal

Iniciamos dezembro, último mês do ano, aguardando as festas e os dias de folga. Para marcar o momento eu separei alguns contos que foram editados para a antologia "Uma Noite de Natal", da Lura Editorial. Depois de muito pensar, eu escolhi o texto "Um doce de Natal" para participar da antologia e os demais ficaram para outra ocasião. Resolvi, então, compartilhar tudo com os meus leitores, começando hoje com "O Conto do Peru".

Depois de uma longa noite de entrega de presentes, o bom velhinho aterriza o trenó e libera as renas para o descanso merecido. Sua roupa chamuscada (tem gente que não limpa a chaminé e nem apaga a lareira) foi direto para a máquina de lavar e ele para a esteira, tentando diminuir o efeito das toneladas de biscoitos que mordeu durante a noite. Feito isso, um bom banho veio a calhar para depois sentar em sua cadeira, onde verificou a repercussão de seu trabalho nas redes sociais. Foi quando encontrou a seguinte situação num vídeo do “Bichotube”:

Totalmente bêbado, o peru chega na festa dos bichos, onde já estavam o quati, o porco, o frango, o tucano e um galo que cacarejava como uma sirene dos bombeiros.

- Então, peru? - perguntou o porco – Já pronto para a degola?

- Nem pensar! Eles escolheram outros bichos, daqueles que nunca ninguém viu, e este ano eu 
escapei... ai resolvi comemorar tomando umas lá no boteco!

Enquanto isso, em algum lugar perdido por ai, os Adams elegeram Wednesday (Vandinha) como responsável pelo “enterro dos ossos” já que essa atividade ela bem que gostava.

Na festa dos bichos, o peru era o convidado inconveniente, já que tomara todas.

- Ei quati! Você fez doce? É pavê ou “pacumê”?

Quase que o aborrecido quati deu a tal resposta padrão aos chatos e que não vou reproduzir aqui. Encarregou o galo “sirenista” de dar um fim ao peru. Ele foi lá fora, deu a tal cacarejada e o porco falou:

- Olha lá, peru! Tem incêndio lá fora! Vai conferir.

Ao abrir a porta, para ver o que se passava, o porco meteu-lhe um chute na bunda e nada mais restou ao peru que retornar ao seu poleiro, lá na casa dos Adams, onde a Vandinha e coisa e tal... já entendeu, né.

Ainda bem bêbado, o peru errou a porta do galinheiro (galinheiro não é de galinha?) e foi parar na cozinha, onde Wednesday dava as instruções aos cozinheiros. 

Achando que estava entre seus amigos, o peru mandou um “gluglu” inconveniente para a menina que, para seu azar, ela entendeu:

- E ai, Vandinha? E os namoradinhos?

Lá na casa dos Adams, Mortícia vai até a cozinha a tempo de se orgulhar com a habilidade de sua filha. Mal o peru terminou de “gluglurejar”, Wesnesday lançou um cutelo na direção de seu pescoço e falou para os cozinheiros deixarem o tender de lado que o almoço seria a ave mesmo, que já estava bem temperada e ficaria pronta mais depressa.

- Os namoradinhos, peru? Degolados todos, que nem você!



Eu sou doc

Money

"🎼🎶Money, so they say, is the root of all evil today  🎶" Pink Floyd Desde sempre, os comerciais na TV aberta são uma chateação,...