30 outubro 2022

Extinção das Artes

"A maneira mais eficaz para destruir as pessoas é negar e destruir a sua própria compreensão de sua história" (George Orwell)

Outro dia fiquei preocupado com uma afirmação, dessas da Internet, de que os jovens não sabem que os filmes do Harry Potter vieram na sequência dos livros de J.K Rowling. Da mesma forma, a expressão "caiu a ficha" teria origem desconhecida já que dependia de entender como era usado o telefone público ("orelhão") usando tal artefato (em outro texto eu explico, mas quando "der na telha").

Aí fui, com minha esposa e filha, ao show da Sandy! Sim... aquela que cantava com o irmão - Júnior - que é filha do Chororó que é irmão do Chitão... 

Ah! Todo mundo já entendeu!

O evento foi no "Espaço Unimed" e que confundi com o Teatro Positivo, pois ambos os espaços fazem parte do complexo da Universidade Positivo em Curitiba. Achando que era no teatro, escolhi "roupa de missa" e separei um sapato que eu gostava, semi novo, comprado sei lá quando, e que estava quase esquecido num canto da sapateira do meu armário de roupas. Vi que precisava melhorar o brilho e comprei um silicone próprio para isso. Ficou ótimo! No dia do show, lá fui eu todo satisfeito até que a sola soltou e foi "resgatada" por alguém que passava logo atrás. Ainda bem que o tal "Espaço Unimed" estava mais para local de "bailão" do que de evento mais formal.

Chegando no hotel, na volta do show e algumas gargalhadas depois, logo pensei: sapateiro!

Sapateiro é um artista, assim como relojoeiro/ourives e alfaiate/costureira. Só que muito difíceis de encontrar por aqui (e talvez por aí também). Sempre que penso nisso eu lembro do livro "1984" de George Orwell, lá pelo capítulo oito, quando o protagonista procurava um senhor idoso, que ele vira num pub, para saber como era a vida anos antes... "Fale-me sobre a sua vida quando o senhor era garoto. Como eram as coisas naquele tempo? Melhores ou piores do que agora?”

Esses artistas/artesãos fazem parte do tempo, onde as coisas não eram descartáveis e duravam gerações (passavam de pai para filho, irmão mais velho para mais novo, primos) sendo reformadas ou até mesmo criadas por eles.  Imagina o que aconteceria caso sua presença passada não fosse registrada em algum lugar e de alguma forma? 

Realmente pode ser que as gerações "Y" e "Z" (criadas com creme de avelãs ao invés de pão com manteiga, biscoito Globo e Mate Leão, Angú do Gomes, dentre outros) não viram Harry Potter no cinema, não leram coisa alguma e muito menos tem interesse aqui nesse sem qualquer sombra de duvida, mas inventei a "arte da pia" e hoje faço uma pequena homenagem aos criadores de arte de verdade, citados ou não, que nem sempre deixam seguidores (eles nem possuem Instagram) e muito menos herdeiros.

Quanto ao sapato... foi para a reciclagem!

Eu sou doc

23 outubro 2022

Cadê a pia?

Já morei em muitos lugares diferentes, mas o meu recorde de cidades ficou aqui pelo sul mesmo. No final de 2008 eu migrei para o Planalto Norte de Santa Catarina e fui me adaptando à cultura local. 

No início morei numa casa, onde descobri como acender um fogão a lenha enquanto virava espanto o fato de que a pia da cozinha era elemento de mobília e não fazia parte da engenharia habitual da casa da construções ("você não trouxe a sua?").

Claro que, inicialmente, acreditei que o fato era uma exceção, da mesma forma que o comércio todo fechar na hora do almoço seria uma eventualidade já que aos sábados as lojas ficavam abertas até às 13 horas para reabrir somente na segunda feira. Bom... aí descobri também que padaria não abria antes das 8 horas (domingo nem pensar em pão fresquinho) e que em dezembro havia um recesso geral do comércio e serviços públicos.

Considerando tudo isso, pia ser mobília era um mero detalhe, mas outras situações de engenharia seguiram o mesmo caminho da medicina e ficaram sem explicação. Imagina que para trocar uma torneira você teria que desligar toda a água do prédio, pois não havia registro nos banheiros e na cozinha; morei num apartamento que também tinha uma problemática com eletricidade, onde a chave geral era geral mesmo: o disjuntor da empresa fornecedora de eletricidade do lado de fora do prédio.

Hoje nossa escultura dará lugar a uma parede de um apartamento em construção, onde em algum momento haverá uma pia. O mínimo pontinho preto, quase imperceptível, provavelmente será a origem da água, mas observe que não há local de esgotamento (aquele buraco onde vai o sifão). Vamos combinar que lavar a louça nessa pia vai ser bem complicado.

Eu sou doc

16 outubro 2022

Controlados e Contínuos

A rotina de atendimento numa unidade de saúde que presta serviços básicos inclui a emissão de prescrição de repetição, codificada como Z 76.0 pela Classificação Internacional de Doenças (CID). Como doença faz parte do escopo médico isso justifica uns 80% dos atendimentos diários somente para emissão de receitas novas.

Puxando pela memória, lá do passado meio que muito distante,  não lembrei de tal movimento: as prescrições podiam ser feitas por telefone e a pessoa ia na farmácia comprar o remédio orientado pelo médico e valia da aspirina ao temido "Benzetacil®".

Acredito que, depois de algum tempo, houve muito abuso dessa facilidade, sem contar que os remédios ficaram caríssimos e inacessíveis para boa parte das pessoas necessitadas; surgiram, então, os regulamentos que limitaram a compra às receitas (lembro alguma coisa disso) com os remédios "tarja preta" e "tarja vermelha". Surgiram também a dispensação pública e "gratuita" e a privada através das "farmácias populares".

Se fizermos analogia, a louça começa com um copo, depois um pratinho, uma colher e quando nos damos conta temos que lavar tudo para ter espaço para mais louça... A coisa das receitas é meio por aí mesmo...

Quando você acompanha o paciente desde sempre, você já sabe o que precisa; quando você nunca atendeu, tem que começar tudo outra vez. O início é a consulta, a anamnese, revisão de exames e demandas, avaliação da medicação e tudo isso seria ótimo se o paciente tivesse o registro disso tudo ao invés de somente trazer o rotulo das caixas dos medicamentos que diz utilizar. 

Por outro lado, ainda tem a classe de pacientes que, além de não terem as informações, sempre foram atendidos por profissionais que pouco se importavam com a indicação do medicamento e repetiam a receita sem registro das demandas e sem realizar uma consulta formal conforme descrevi. 

No meio da confusão o desastre é anunciado quando você tenta fazer a coisa certa, principalmente nos paciente hipertensos que nunca foram ao cardiologista e nunca fizeram exames adequados, diabéticos que também nunca foram ao endocrinologista e os paciente psiquiátricos que não possuem nem o laudo da doença e muito menos a receita anterior (acompanhamento psiquiátrico também não é comum nesses pacientes).

Na prática, as regulamentações não são seguidas por todos e quem paga o ônus da falta de saúde é o próprio paciente.

Fazer o certo é que nem a louça... é difícil, às vezes é muito chato, mas tem que ser feito! 

Bora fazer bem feito e que dane o resto! 

Eu sou doc 

09 outubro 2022

Adoção

Depois de muita conversa, veio a decisão: vamos adotar uma menina de uns quatro ou cinco anos anos.

Por volta de agosto/2021, fizemos uma espécie de inscrição no fórum e foi quando soubemos que um curso era obrigatório (ainda bem que foi on line... tipo ensino a distância...EAD... nisso a pandemia ajudou).

Aguardamos uns dois meses até o curso começar (era EAD, mas não ficava disponível o tempo todo) e percebemos que o maior objetivo era fazer os candidatos desistirem de adotar qualquer criança e desqualificar pretendentes com motivos considerados inadequados para adoção (a lista é grande e bem esquisita). 

Impressionante? E se eu disser que no estado existem aproximadamente duas mil crianças e adolescentes em abrigos e somente umas duzentas liberadas para a adoção? O curso também ensinou isso.

Uma vez concluída essa primeira saga, ganhamos certificados, juntamos a milhares de documentos e enviamos tudo para o fórum. Infelizmente isso coincidiu com o recesso de final de ano e tivemos que esperar até janeiro para a coisa andar. Quando começou foi rápido: cartório, Ministério Público, Juiz... processo enviado para a assistente social que estava de férias! 

Em meados de fevereiro, recebemos a visita da AS que trouxe uma grata surpresa: havia uma menina, um pouco mais velha do que havíamos escolhido, numa cidade muito próxima o que também foi uma sorte porque o curso informou que o transporte e estadia para qualquer outra cidade ficaria por conta do adotante. 

Marcada a visita ao abrigo, foi amor à primeira vista! Agora vamos aos próximos passos e isso vai ficar para outro dia (senão perde toda a graça).

A pia de hoje mostra o trabalho que viria pela frente... você pensa que a vida é fácil? Nem fácil e muito menos justa!

Eu sou doc

02 outubro 2022

Louça é Vida

O ano era 2020 e, de um dia para o outro, a pandemia lembrou o apocalipse zumbi. Nas ruínas do que um dia fora o apartamento dos meus pais, onde passei boa parte da minha vida, eu e minha sobrinha dividimos o espaço com os poucos móveis restantes durante um tempo. O local era habitável para uma ou duas pessoas e suficientemente confortável desde que não fizesse muito calor ou muito frio. 

Na cozinha tudo funcionava; a sala já não tinha mais o antigo piano e a mesa foi transferida para meu antigo quarto; o banheiro precisava de alguns reparos, não havia como aquecer o chuveiro e o banho frio era rotina que não chegava a incomodar no calor do final de verão. O quarto dos meus pais estava intacto, minha sobrinha morava nele e foi ela que teve o cuidado todo com o apartamento depois que meu pai foi morar de vez no interior.

Dividimos algumas tarefas, incluindo a louça. Depois de lavar, não havia escorredor e eu me divertia montando esculturas únicas com pratos, copos e talheres. 

A ideia de fotografar veio daí... (mas usando escorredor - pena que eu não comecei antes). A ideia de um novo projeto, usando tais fotos, veio depois...

Tenho 3 blogs que estão listados por aqui em algum lugar: Contos de Fada?, Coisas do Narrador e Mais de Vinte Anos sendo que esse último descreve a vida na pandemia enquanto eu discorria sobre meus escritos. 

Um dos textos teve o mesmo nome deste de hoje e falava de uma frase de Ida Feldman: "Enquanto você estiver vivo, vai ter louça" e enfeitava uma caneca que eu gostaria que ela mandasse pra mim um dia desses, já que faço propaganda e deixo até o link em azul 😆😆😆😆😆😆😆😆

Então (e finalmente) comecei esse projeto e já deixo a arte que fotografei hoje, para o deleite dos amantes da lavação (será que existem? onde vivem? o que comem?). Se você também faz esculturas de louça, mande uma foto e uma história (faça contato pelos comentários).


Eu sou doc

Money

"🎼🎶Money, so they say, is the root of all evil today  🎶" Pink Floyd Desde sempre, os comerciais na TV aberta são uma chateação,...