31 dezembro 2023

Louça de Final de Ano

" Gente! Ele morreu!!!!"

Durante o período de festas do final de ano, duas classes de pessoas são encontradas (e suas ramificações também): aquelas que viajam e retornam no “day after” e aquelas que trabalham exatamente na véspera de Natal ou Ano Novo. Algumas características são comuns, como não dormir a noite inteira, estar exausto no dia seguinte, não encontrar nenhum restaurante aberto para o almoço, não aproveitar a praia (se for o caso), além de algumas outras coisinhas individuais. De diferente, aquelas que viajam enfrentam o engarrafamento interminável das estradas, a dor de cabeça da ressaca, o mau humor de alguns companheiros/parentes de viagem, dentre outras coisas; os que trabalham só consideram tudo mais um dia, como qualquer outro. Por sorte, o dia 31, neste ano, caiu no domingo e o almoço inclui maionese no hospital onde trabalho.

Nessa última classe estão os plantonistas, nossos “anjos da guarda” (bom... há controvérsia porque a qualidade desses médicos atuais anda deixando a desejar e "da guarda" pode ser substituído por "da morte" em alguns casos). Eles que limpam as merdas (ou as pioram) que fazemos e resolvem (será?) nossos problemas em caso de necessidade. 

Jamesvaldo, o James (a pronúncia é “djeimes”), residente de primeiro ano de um hospital geral, foi o sorteado para o trabalho da virada do ano. Chegou em casa, pela manhã, certo de que cumprira sua função (suturar vários pés cortados de mocinhas de vestidos brancos e curtos que tiraram seus saltos na praia, prescrever hidratação com glicose para aqueles que não dirigiam, mas bebiam sem parar, atender casos sem qualquer indicação de urgência e outros realmente urgentes, etc) tendo absoluta certeza que não ia colocar, nas redes sociais, nenhuma zoação sobre qualquer paciente, quer aqueles com nomes estranhos (ele entende bem desse problema), aqueles com histórias esdrúxulas e queixas absurdas que também procuram atendimento ou aqueles que, eventualmente, o médico tem vontade de rir (ter vontade é direito de todo mundo; contar isso já é falta de respeito, principalmente na Internet, como infelizmente observo por ai). 

Morava com mais quatro amigos, que ainda estavam na faculdade, e nenhum era acadêmico de Medicina, sendo que havia também um aluno de intercâmbio. 

"OMG! WTF! Call 911!"

Esses amigos foram festejar numa casa de festas próxima e emendaram na praia, de roupa e tudo, chegando em casa só lá pelas duas da tarde, do primeiro dia do ano, ainda acompanhados de desconhecidas sem nome que conheceram na balada. Foi uma dessas desconhecidas que deu o primeiro grito lá em cima. 

Ainda muito ligado devido ao plantão e já decidido a comer um risoto de pacote com algumas salsichas em lata (também chamadas de “vina” em algumas localidades mais ao sul do país), tomou um banho e resolveu “dar uma limpa” na papelada bagunçada do ano findo até a adrenalina baixar (isso só quem é médico sabe como é). Derrubou caixas de papelão, contas bancárias, folhetos sem uso e saiu rasgando tudo e empilhando. Confusão armada, ele mandou ver no risoto e tomou aquela cervejinha porque ninguém é de ferro. Consequentemente, a adrenalina baixou e ele resolveu deixar para arrumar a zona depois do cochilinho mais que merecido. 

"Vamos ligar para o SAMU!"

A pilha de caixas era enorme, assim como de papel picado. Arrumou um espaço na cama, deitou e dormiu. Só que, do lado de fora do quarto, dependendo do ângulo, a visão era de um sujeito “afogado” em papel somente com a mão visível na superfície do “mar” de celulose. 

"Melhor ligar para a polícia mesmo!"

A discussão na sala era enorme, pois nenhum dos colegas possuía discernimento, depois do grande período na esbórnia. A confusão era total: as desconhecidas gritaram, desmaiaram, deram vários pitis e isso tudo durou até o momento que a mão do James desapareceu, do monte de papel, e ouviu-se uma descarga de banheiro. Silêncio total, aparece nosso herói de cueca samba-canção e sem camisa, coçando o saco e ajeitando a vestimenta, e reclamando:

- Porra galera! Foda hein! Dá pra fazer silêncio? E vê se alguém lava a louça!


Eu sou doc 

24 dezembro 2023

Uma Noite de Natal

No início do mês eu falei da antologia e hoje, véspera de Natal, eu deixo aqui o texto que faz parte do "Uma Noite de Natal". Recebi os livros há alguns dias e são vários textos muito legais de vários autores... então vamos lá!

Um Doce de Natal

As festas de final de ano possuem diversas conotações de acordo com as crenças de cada um: podem ser um momento de reflexão, de pedidos, de distribuição de presentes (onde entra o Papai Noel) e também de celebrações religiosas. Independentemente do que cada um pense, o que é certo é a ceia natalina, repleta de guloseimas, e o “enterro dos ossos”, no almoço do dia seguinte.Famílias e amigos se reúnem e comemoram da forma que melhor se encaixar nas suas convicções. 

O Natal na minha família sempre foi comemorado com alguma festividade. Quando eu era criança, a festa acontecia na casa da minha avó e íamos meu pai, minha mãe, meu irmão e eu, claro. Antes de sairmos para lá, havia um momento inesquecível: Papai Noel, em pessoa, aparecia na porta do apartamento e nos entregava presentes. Isso gerava uma briga enorme no jardim de infância (o atual “prezinho”) porque algumas outras crianças não mais acreditavam no Papai Noel e eu sim. Lógico: eu via o sujeito todo Natal! Como não acreditar? Muitos anos depois, eu soube que não era bem o “bom velhinho” que aparecia e sim um representante dele, o porteiro do prédio (acho que o nome dele era Mariano), mas dava no mesmo.

Certa vez eu peguei caxumba justo no Natal. Essa doença causava um inchaço no pescoço, mas o maior problema era “descer”, acometendo “as partes baixas” e levando à infertilidade no futuro. O único jeito de evitar isso era com repouso absoluto, e o percurso de cinco minutos de carro até a casa da vovó já era proibitivo.

Lógico que fiquei revoltadíssimo quando meus pais disseram que não iríamos, mas a situação sensibilizou meus avós e tios e a festa foi transferida lá pra casa. Medo de pegar caxumba ninguém tinha porque a ideia ERA contrair a doença, ao menos para minhas primas. Contaminei todas as crianças da família porque era a forma de criar imunidade antes da idade adulta. Hoje já existe vacina, mas vamos continuar falando de Natal que é bem melhor.

A partir dessa mudança veio uma ideia e a festa passou a ser alternada entre a casa da vovó e a casa do meu tio. Lá em casa era complicado, porque morávamos num apartamento pequeno e havia pouco espaço. Serviu bem naquela situação inusitada, mas nada para virar rotina anual.

Alguns anos depois meus avós mudaram para o interior do estado e continuamos a tradição por lá mesmo incluindo diversos amigos, mas meus tios e primas não mantiveram sua presença. Podemos dizer que criamos o Natal na cidade, pois a festa era uma grande novidade já que não havia nenhuma tradição nesse sentido. Foi evento durante alguns anos, onde minha mãe providenciava algum presente/lembrança para todo mundo que aparecesse (convidado direto ou não). Para isso ser possível, ela procurava possíveis lembrancinhas, nas lojas, no decorrer do ano e fazia um tipo de reserva técnica para que, na hora, ninguém saísse de mãos vazias

Com o tempo a família cresceu, diminuiu e, dos antigos, somente eu, meu irmão e o velho pai ainda estamos por aqui, mas o marco herdado, através de um livro de receitas da mamãe, ficou com o doce que ela fazia no Natal e que meu irmão replica com perfeição. Ele é chamado de “Mil Folhas Falso” e a receita que compartilho hoje, em homenagem à minha mãe, foi copiada fielmente de lá. 

“Forre um pirex com biscoito cream cracker e salpique com uma xícara de leite pingado com baunilha. Faça um creme assim:

1 lata de leite condensado

2 copos de leite

2 gemas

1 colher de sopa de maisena

Leve ao fogo; quando estiver pronto jogue por cima dos biscoitos.

Colocar nova camada de biscoitos pingados com baunilha

Fazer outro creme igual ao primeiro acrescentando 6 colheres de Nescau

Colocar por cima dos biscoitos

Cobrir, para terminar, com chocolate granulado e levar à geladeira”

Depois de pronto é só comer e ser feliz, assim como o Natal. 

Obrigado, mãe!

Eu sou doc

17 dezembro 2023

Natal na Casa do Mago

No meio da Floresta Encantada existe uma casa amarela, onde mora um Mago. Lá também é comemorado o Natal, mas algumas coisas podem ser meio diferentes.

Naquele ano, já passava muito da meia-noite e tudo corria dentro do esperado: os presente já estavam distribuídos e uma ótima ceia já agraciara os convidados (alguns não apareceram, mas é assim mesmo todo ano). Eis que, de repente, um barulho: 

- Ho Ho Ho!

- Ah! Sim! Velho amigo (K)Clown! Chegou tarde, mas tudo bem!

- Bota os óculos, velho Mago, este ano eu cheguei antes dele!

- Você continua ridículo Papai Noel!

Vestindo uma capa de chuva amarela, por cima da roupa tradicional, com um crachá onde se lia “Estado de Greve”, Papai Noel pulou a janela e começou o assunto.

 -Ainda bem que você deixou a janela aberta. Aqui não tem chaminé!

- E o pozinho que a Fada Madrinha entregou pra você?

- Você tem mais um pouco aí? O meu está no fim!

O Papai Noel possui um pozinho mágico, que ganhou da Fada Madrinha, para criar uma abertura nas janelas ou paredes, por onde ele consegue passar e entrar nas casas. 

O Mago pegou um potinho e deixou com Noel, não sem antes perguntar do que se tratava o crachá, já que nem ele e nem as renas era aeroviários, apesar de terem sugerido que as renas eram algo “aero” semelhantes.

- Bom, me pediram isso de Natal e aí estou dando uma força com a divulgação.

O Mago então fez o “confere”: o velho Dragão jardineiro ganhara um regador novo; Guardião, um cajado novo; e assim por diante.

- Veja, Mago: aquele encanto do “princesa voltar a ser fada” é meio complicado. Tem cada coisa que pedem...

- Mas você não foi lá falar com a Fada Madrinha?

- Ela deu um visto provisório que já está em uso. Só que o definitivo tem que passar por muita burocracia; mas ela deu uma dica: princesa transforma sapo em príncipe com um beijo, portanto acredito que beijo resolva isso também (roubado não vale).E você bem sabe que isso não depende de mim né?

- Sim, Noel. Isso está mais para a Fada Madrinha mesmo.

- E o que as meninas pediram? Você não trouxe?

- Leia.

Papai Noel entrega a cartinha que recebera de Ana, Adrielle e Deborah, onde elas somente pediram que o Mago tivesse seus desejos realizados e abriam mão de qualquer outra coisa 

Sem saber o que dizer e o que pensar, ele pediu para que Papai Noel escolhesse os presentes e assim os entregasse o mais breve possível, para que não fosse perdida a magia do momento. 

Pulando novamente a janela, lá se foi Papai Noel na direção do infinito, procurando a lua. 

É quem é o K(Clown)? Isso será história para outro dia.

Eu sou doc 


10 dezembro 2023

Como assim?

Como assim, não acredita em Papai Noel?

Depois de uma longa noite de entrega de presentes, o bom velhinho aterriza o trenó e libera as renas para o descanso merecido. Sua roupa chamuscada (tem gente que não limpa a chaminé e nem apaga a lareira) foi direto para a máquina de lavar e ele para a esteira, tentando diminuir o efeito das toneladas de biscoitos que mordeu durante a noite. 

Feito isso, um bom banho veio a calhar para depois sentar em sua cadeira, onde verificou a repercussão de seu trabalho nas redes sociais.

De repente, uma coruja atrapalhada, de nome Errol, entra pela janela e bate a cabeça na parede, onde sucumbiu e ascendeu ao "corujal" da eternidade (foi assim que aconteceu, mas ninguém contou isso nos livros). Trazia uma "tirinha” com Sofia e Juquinha conversando sobre a crença no Papai Noel.

Imediatamente convocou todos os duendes. Inacreditável a troca de presentes: afinal, onde já se viu dar um espremedor de laranja para uma criança que pedira uma bicicleta? 'Tá certo que nem sempre os presentes são exatamente correspondentes aos pedidos; uma bicicleta pode virar um patinete; uma piscina olímpica é substituída por uma desmontável de 1000 litros; a Catherine Zeta–Jones... bom, nesse caso quem pediu que se foda vai levar nada mesmo.

- E o que demos a ele esse ano? - perguntou Papai Noel.

- Ele não pediu nada, porque não acredita mais. - informou um duende burocrata.

- Mas as pessoas acreditam em bacalhau, chester, tender, por que é tão difícil acreditar em Papai Noel?

Tomou a decisão: colocou uma bermuda vermelha, chinelão, uma camiseta do Flamengo e foi lá procurar o tal Juquinha, levando uma poderosa bicicleta de várias marchas. Ao mesmo tempo, Sofia recebeu um SMS informando a situação:

"Agradecemos a sua mensagem! Estaremos processando sua reclamação e estaremos enviando uma resposta assim que possível. Feliz Natal!"

A menina quase caiu dura para trás, já que nem esperava mais resposta. 

Procurou Juquinha, que tomava um suco de laranja (Ah! Quem disse que o presente não teve valia?), que achou tudo uma grande palhaçada, até que Papai Noel apareceu com seu presente, um ano atrasado. Juquinha ficou contente, Sofia mais ainda, Papai Noel tomou um suquinho e retornou para sentar a porrada para dar uma bronca no duende atrapalhado, lá no Polo Norte, não sem antes aproveitar uma praia em Ipanema, nesse belo dia de sol.

Eu sou doc

03 dezembro 2023

Contos de Natal

Iniciamos dezembro, último mês do ano, aguardando as festas e os dias de folga. Para marcar o momento eu separei alguns contos que foram editados para a antologia "Uma Noite de Natal", da Lura Editorial. Depois de muito pensar, eu escolhi o texto "Um doce de Natal" para participar da antologia e os demais ficaram para outra ocasião. Resolvi, então, compartilhar tudo com os meus leitores, começando hoje com "O Conto do Peru".

Depois de uma longa noite de entrega de presentes, o bom velhinho aterriza o trenó e libera as renas para o descanso merecido. Sua roupa chamuscada (tem gente que não limpa a chaminé e nem apaga a lareira) foi direto para a máquina de lavar e ele para a esteira, tentando diminuir o efeito das toneladas de biscoitos que mordeu durante a noite. Feito isso, um bom banho veio a calhar para depois sentar em sua cadeira, onde verificou a repercussão de seu trabalho nas redes sociais. Foi quando encontrou a seguinte situação num vídeo do “Bichotube”:

Totalmente bêbado, o peru chega na festa dos bichos, onde já estavam o quati, o porco, o frango, o tucano e um galo que cacarejava como uma sirene dos bombeiros.

- Então, peru? - perguntou o porco – Já pronto para a degola?

- Nem pensar! Eles escolheram outros bichos, daqueles que nunca ninguém viu, e este ano eu 
escapei... ai resolvi comemorar tomando umas lá no boteco!

Enquanto isso, em algum lugar perdido por ai, os Adams elegeram Wednesday (Vandinha) como responsável pelo “enterro dos ossos” já que essa atividade ela bem que gostava.

Na festa dos bichos, o peru era o convidado inconveniente, já que tomara todas.

- Ei quati! Você fez doce? É pavê ou “pacumê”?

Quase que o aborrecido quati deu a tal resposta padrão aos chatos e que não vou reproduzir aqui. Encarregou o galo “sirenista” de dar um fim ao peru. Ele foi lá fora, deu a tal cacarejada e o porco falou:

- Olha lá, peru! Tem incêndio lá fora! Vai conferir.

Ao abrir a porta, para ver o que se passava, o porco meteu-lhe um chute na bunda e nada mais restou ao peru que retornar ao seu poleiro, lá na casa dos Adams, onde a Vandinha e coisa e tal... já entendeu, né.

Ainda bem bêbado, o peru errou a porta do galinheiro (galinheiro não é de galinha?) e foi parar na cozinha, onde Wednesday dava as instruções aos cozinheiros. 

Achando que estava entre seus amigos, o peru mandou um “gluglu” inconveniente para a menina que, para seu azar, ela entendeu:

- E ai, Vandinha? E os namoradinhos?

Lá na casa dos Adams, Mortícia vai até a cozinha a tempo de se orgulhar com a habilidade de sua filha. Mal o peru terminou de “gluglurejar”, Wesnesday lançou um cutelo na direção de seu pescoço e falou para os cozinheiros deixarem o tender de lado que o almoço seria a ave mesmo, que já estava bem temperada e ficaria pronta mais depressa.

- Os namoradinhos, peru? Degolados todos, que nem você!



Eu sou doc

26 novembro 2023

A Maçã

Mais um texto do tipo "entendedores entenderão". A sugestão foi do meu irmão.

No centro da sala jazia o "de cujus" (ou o pouco que foi recuperado e liberado pelo departamento específico  - equivalente ao CSI da série televisiva).

- "Como que não havia ao menos uma maçã?"

Do início dos tempos, onde a maçã mordida acabou com o paraíso, até o iPhone, a fruta vermelha por fora e meio que branca por dentro esteve presente em vários eventos (não necessariamente na ordem apresentada e muito menos da forma que estão descritos), como no caso do  Guilherme Tell que disparou uma flecha numa maçã na cabeça do próprio filho que não fez o dever de casa; ou naquele do cientista,  Isaac Newton, que estava de saco cheio da vida - até porque tinha uma insônia danada - e descansava embaixo de uma macieira quando uma maçã caiu na sua cabeça, curando seu problema, e que o fez descobrir a tal da lei da gravidade, muito usada pelos cirurgiões plásticos e andrologistas. O caso mais famoso é o da madrasta malvada que era uma bruxa, que deu a tal maçã envenenada para sua enteada e o resto aí todo mundo sabe.

- "Pois é. Em todo lugar tem maçã. Tá certo que só é encontrada a importada que é muito cara, mas não justifica. Será que ele sofreu?"

- "Dizem que foi servido frito e funcionou como na história da Branca de Neve. Provavelmente era uma parente distante da bruxa malvada sem noção."

- "Vamos embora? Já fizemos nossa parte e os mosquitinhos daqui já acabaram. Vamos atrás de alguns escorpiões e aí podemos dizer que comemos o morto."

Pela janela, as duas lagartixas saíram em busca de outra bela refeição.

Eu sou doc

19 novembro 2023

Allaah-La-Ô

O título é para os fortes e entendedores entenderão.

Morar no Rio de Janeiro passou a contar com mais uma adversidade que é o calor insuportável. Lembro do tempo que íamos à praia sem muitos problemas além de enfrentar o 233 sem climatização; que passeavamos na Praça Saens Pena e ficávamos na porta do Metro Tijuca que tinha um ar condicionado poderoso; nos finais de semana e férias, quando íamos para a casa da vovó em Rio das Flores, levar uma japona era indispensável - mesmo no verão - porque as noites eram frias e andávamos pela cidade com lanternas na mão (era um passeio noturno familiar).

Há vários dias que a temperatura ultrapassa os quarenta graus e até o show da Taylor Swift foi cancelado devido ao calor que talvez tenha gerado a morte de uma fã.

Aí, depois que alguém morre é que resolvem liberar água e outras coisas para que os pagantes sobrevivam aos mega shows.

Eu sou doc

12 novembro 2023

Desafios para o Enfrentamento da Invisibilidade do Trabalho de Cuidado Realizado pela Mulher no Brasil

Hoje é o segundo final de semana do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na semana passada houve a prova de redação cujo tema ilustra o título do post de hoje (essa minha frase está se tornando repetitiva). Em 2012 eu falei a respeito num texto do "Coisas do Narrador", que você pode ler clicando aqui, e hoje vou fazer uma versão do tema, por aqui mesmo e que certamente levaria zero, mas meu intuito é diversão. Ah! Vou usar um personagem que usei outro dia também.

Depois de muito tempo surgiu um final de semana de sol e coincidiu com uma folga no trabalho, onde ela exercia as funções de auxiliar de serviços gerais (tem louça lá pra lavar também).

Acordou e o marido ainda roncava. Chegou na cozinha, ligou a cafeteira e descobriu que não havia luz. Tentou o gás, mas também acabara; nisso o roncador surgiu e falou que ia sair e que não tinha problema, porque iria tomar o café na padaria e só voltaria para o almoço.

E ela que pensara em sair para arrumar cabelo, unha e essas coisas, né.

Só que não se fez de rogada: ligou para todos os envolvidos e começou o desfile de eletricistas, homem do gás, mulher da árvore de Natal (hoje em dia tem isso), tomar conta da criança e do cachorro que teimava em subir nas pernas das pessoas ("assim que der vou castrar, eu mesma, esse bicho!").

A pior parte foi a elétrica: "dona Natasha, qual o número do apartamento?" "Ana Paula, por favor, e é o quatro".

Aí mexe aqui, mexe lá..."Vai ter que quebrar a parede porque o sujeito que construiu não quis fazer sei lá o que... pera que ele tá ligando... sim é o da dona Natasha" " Ana Paula,  caralho por favor!" "Dona Natas... Dona Ana Paula aqui não é quatro... é cinco "

Já com luz, gás e coisa e tal, providenciou o almoço, o marido chegou, ela arrumou a cozinha, pendurou a roupa que tinha colocado na máquina, o marido dormiu, ela saiu correndo para o salão, voltou toda arrumada e, quando chegou, o marido falou:

"- Ué! Onde você estava? Você não ia no cabeleireiro?

Muito puta da vida  revoltada, fez um café, encheu de rivoriba (nome modificado para preservar o medicamento e a saúde das pessoas), deu para o marido, colocou o cachorro (que sodomizava uma almofada de tartaruga - "da próxima você não escapa", ela disse) no canil, pegou a criança e largou na vizinha, pegou seu Fiat 147, achou uma garrafa antiga de absinto, incorporou Natasha e o resto vocês podem ter ideia acessando as "Histórias de Ana Paula (Natasha)" clicando no link aqui.

Eu sou doc

05 novembro 2023

River Flows In You

Estamos na primavera, mas a chuva e o frio não deixam esquecer que, por aqui, o inverno dura 9 meses e os três meses restantes são divididos nas outras estações sem muita lógica. Para você ter uma ideia, até há dois dias choveu no melhor estilo "inundação" de verão e desde ontem amanhece com um frio invernal como se houvesse geada. 

Desde que fui morar em Petrópolis , há vinte anos, e depois migrei para o sul que observo melhor os caprichos da Natureza e escrevi vários textos a respeito. Um desses falava do outono e ilustrei com um vídeo com fotos de paisagens nessa estação. 

Para sonorização eu usei uma música muito bonita e que achei por acaso na Internet associada a Debussy e ao filme Crepúsculo. Só que, na minha pesquisa da época, não encontrei o nome da música e, muito menos, o momento do filme que ela surgia.

Hoje, finalmente, vi um vídeo onde surgia a música e seu nome, que é o título do texto. O compositor é coreano e seu nome artístico é Yiruma. A composição é de 2001 e foi associada ao filme por conta dos fãs, mas nunca foi aproveitada na trilha sonora.

Para ver o vídeo que resolveu a minha curiosidade clique aqui 

Para ver o meu vídeo com as fotos, clique aqui 

Para ler o texto, clique aqui 

É isso. Bom domingo.

Eu sou doc

29 outubro 2023

Semana do Dia das Bruxas

Uma vez por ano, ao menos, elas se encontram em algum lugar desses que nunca aconteceram, mas sempre na mesma noite. 

“Dia das Bruxas e seu feitiço irá te tomar; não deveria ter deixado você me conquistar completamente, e agora não consigo acordar desse sonho que toda noite me persegue.”

Tempestade, raios e trovões... A última coisa que se lembrava é que fora à feira comprar uma moranga para o almoço de sábado, onde faria o camarão e, talvez, um doce com coco. Quando acordou, viu aquela sua amiga bonita, longos cabelos pretos, muito vistosa, dormindo seminua do seu lado. Já prevendo algum desastre ocorrido e esquecido, cutucou a garota que bocejou e comentou:

- Nossa! Noite boa! Aproveitamos né? Caramba... tenho que ir pra loja! “Xau” e beijo! 

A tal amiga pulou da cama, colocou um vestido preto curtíssimo, tomara que caia, estilizando uma veste de bruxa. O chapéu ela levou na mão ("A vassoura você guarda pra mim que eu pego depois, tá?"). Cada vez entendendo menos, Ana Paula levantou, não sem antes conferir se não havia nenhuma pecinha de lego (maligna) no chão, conferiu se havia luz para um bom banho e não esqueceu a toalha (agora ela anda bem prevenida, para evitar incidentes). Saiu do chuveiro, coçou o saco e, instintivamente foi fazer a barba. 

- Pera! Que porra é essa? Saco? Barba? 

Um grito ecoou pelo banheiro quando ela olhou no espelho e viu que virara homem; não um homem qualquer e sim aquele seu antigo amor, que desdenhara e que sua amiga ficara diversas vezes. 

- Pera (de novo)! Eu comi trepei transei dormi com a minha amiga! Não! Ele dormiu! Não... ai que merda foda confusão! Só que eu sou ele! 

Quando acalmou, concluiu que não estava em casa e sim na casa dele, no corpo dele, só que era ela que pensava. Por outro lado, ela sabia tudo sobre ele, principalmente a senha da rede social, onde não eram mais amigos e, portanto, muita coisa ela não conseguia fuçar. Imediatamente abriu o computador, foi lá para ver o que rolava e ficar atualizada. Havia uma mensagem e começou por ela: 

“Oie! passando pra dizer que sinto saudades de você e as vezes tenho vontade enorme de ligar pra contar coisas que me acontecem, porque só você me entendia; lembro de tudo de bom que você fez por mim e sinto falta dos nossos tempos. Eu sei também que você não vai querer responder, mas to escrevendo pra dizer que ainda gosto de você e nunca vou te esquecer porque você é muito especial para mim e que sinto de verdade muita saudade de você! Bjos de quem TE ADORA do tamanho do universo para todo sempre...." 

- Filha da puta Vadia Piranha Quem é essa sirigaita que escreveu essas coisas pra ele? Nossa! Eu que escrevi... não... ele que escreveu... pera... então ele está no meu corpo e aí ele escreveu... então ele quer se aproximar de novo e aproveitou que ele sou eu. Que confuso! Ah! Vou dizer que to muito afim e coisa e tal... quer dizer...ele vai dizer... Ah! Isso tudo tá muito foda doido; mas pera... ele não faria isso de cara não e eu sou ele. 

Ana Paula pensou, pensou e resolver mandar um vídeo do Youtube, com Sandy e Junior cantando “Desperdiçou” junto com a Ivete Sangalo. No que ele, melhor, ela... (essa narrativa é que está foda de fazer, mas o leitor que se esforce para entender), fingiu não entender e continuou puxando assunto.

- O que ele faria agora? Seria educado? Talvez... 

Deu algumas respostas polidas, ele/ela (tá confuso, eu sei, mas vê aí se vocês entendem), insistiu na paquera. 

- Hum... acho que, como estou no corpo dele, vou mandar um vídeo de amor e aí resolvo esse meu problema de vez. 

Ana Paula, incorporada no seu antigo amor (às vezes ela vira Natasha também, daí já estar acostumada - qualquer hora eu conto outras histórias dela para ficar mais fácil de entender), procurou, procurou, mas o instinto masculino do cara falou mais alto e detonou um vídeo do Jorge Aragão , cantando "Você abusou", que ela pensou que ia dar boa coisa, mas quando viu o vídeo já tinha ido e aí não tinha jeito e aí caralho, fudeu tudo danou-se! 

Uma ventania tomou conta do escritório, diversas abóboras voaram em sua direção e bateram na sua cabeça. Quando acordou, tudo voltara ao normal e ela não tinha mais saco e nem barba. Do banheiro veio a voz do companheiro que escolhera:

- Querida ! Onde está meu aparelho de barbear? 

E naquele lugar que falei mais cedo, duas irmãs e uma vampirinha comemoravam os efeitos do feitiço desse ano, enquanto uma abóbora gargalhava por ai...


Eu sou doc

23 outubro 2023

Enxergar um novo dia

Já comentei, meio que de leve, por aqui a respeito da exposição "extra artística" que alguns artistas de renome e muito consagrados tem feito na televisão e demais mídias existentes. Começou com a atriz, ex mirim, que brigou com a família por conta de dinheiro e o assunto foi parar no Fantástico que virou programa de fofoca como os vespertinos que temos por aí; seguiu-se na cantora famosa que foi com o marido no Altas Horas contar o acontecido; por fim a jornalista, famosa por ser ancora de telejornal noturno e por suas duras criticas a diversos segmentos politico culturais, que foi parar no reality show da emissora do "bispo". 

Por conta disso tudo e mais algumas outras situações menores, tive vontade de escrever a respeito; foi quando encontrei um texto que o Guilherme Arantes escreveu em sua página do Facebook. Para quem não conhece, ele é um cantor e compositor brasileiro. É um dos poucos pianistas brasileiros a integrar o hall da fama da secular fabricante teuto-americana de pianos Steinway & Sons, estando em companhia de nomes como Guiomar Novaes, Franz Liszt, George Gershwin e Duke Ellington e vale a pena conferir sua obra na internet.

E ele começa assim:

"me perguntam porque evito fazer televisão . é que tenho percebido que minha imagem pode trazer danos à audiência. e que a "audiência" da TV pode trazer danos para mim . explico . Sei que a TV foi maravilhosa para nossas gerações, especialmente a minha . Tenho total reconhecimento . Amo a TV . Amei existir e fazer parte dela. Mas era outra TV . Outro jeito de se fazer. A gente cantava, e pronto. Não tinham os componentes e as fórmulas que vingaram nos tempos atuais. Ficou bem complicado agora, com interatividade e o voyerismo invasivo, científico, dos talk shows... E sei que os programas das TVs vivem na corda-bamba, lutando desesperadamente por audiência. Muito da TV, hoje, se constrói em função do que vem e do que causa nas Redes Sociais. E isso é Orwelliano, diabólico. Não quero constranger o público, também, já que hoje em dia as pessoas são todas muito bonitas nas redes sociais, nas mídias. Esta é a época de Ouro da humanidade, em que os seres humanos são todos simplesmente maravilhosos e todos muito virtuosos, com seus milhões de seguidores . todo mundo faz a sua lição de casa, bonitinhos, com seus sorrisos e mensagens agregadoras, ou estudadamente "chocantes" , provocativas , vale tudo desde que sejam de alguma forma eficientes para angariar seguidores. É a Nova Verdade. Diga-me quantos te seguem, e te direi Quem És. Sinto um constrangimento em existir, ainda. Sei que já passou o tempo de eu estar enterrado num passado de lembranças, e não incomodar mais. Só que eu, Guilherme Arantes, insisto em não morrer ( seria o ideal ) , e estou nascendo hoje para o futuro e insisto em dizer pra mim mesmo : eu existo. Dane-se o incomodo que causar. Anos atrás, fui fazer o Fausto Silva e a Anne Lottermann me perguntou se eu sentia saudades da cabeleira , da minha juventude. Sei que foi uma pergunta inocente e burrinha, coitadinha, , porque eu lhe respondi na lata. Fiquei surpreso com a pergunta "na lata" . As pessoas na TV têm que ser lindas. isso é inquestionável. Respondi que eu nao sinto saudades porque o meu conteúdo cerebral de hoje, o meu carisma até para responder ... não dá para comparar com o conteúdo "ralinho" , o carisma fraquinho que eu tinha no tempo dos cabelões, que aliás, hoje data de mais de 40 anos, a provável idade dela. 

Não quero mais televisão porque quando é para ser entrevistado, a pergunta já vem pautada para "causar" , e as falas na TV são sempre tóxicas, trazem aborrecimentos e perdas pessoais. 

Tenho visto colegas entrarem nessa roubada de " debates" , de temas, de "pautas", cujo único propósito é colocar o artista frente a frente com o paredão de fuzilamento da polarização, 

até aí, vai quem quer . 

Aí, quando é para cantar, aí as produções querem os "hits" mais comportadinhos e digestivos, que garantam a audiência através dos "grandes sucessos" , que não tragam questionamento novo algum . 

É um tempo muito difícil de se estar vivo . 

Muito fácil para se estar morto ."

Precisa desenho?


Eu sou doc

15 outubro 2023

Semana do Saco Cheio

🎶 Até que num dia qualquer Eu vi que alguma coisa mudara Trocaram os nomes das ruas E as pessoas tinham outras caras No céu havia nove luas E nunca mais encontrei minha casa🎶

Hoje é o Dia do Professor. Um dia bem interessante, pois outubro é mês do signo de Libra que representa o equilíbrio. 

Sim! É um mês bem equilibrado de coisas completamente ensandecidas. 

Falam que é o mês das crianças, mas o dia comercial designado virou feriado nacional pela comemoração do dia da padroeira do Brasil.

Há alguns anos descobri que os feriados “emendados” de doze e quinze de outubro eram aproveitados por alguns colégios para conselho de classe, passeios ou somente para nada a fazer. Uma época onde os alunos já não aguentam mais as aulas (estão de “saco cheio”) e não veem a hora de chegar as férias. Último bimestre, quem vai passar já tem ideia disso e quem vai para recuperação também já tem essa noção.

Dessa forma foi criada a “Semana do Saco Cheio” porque tudo isso emenda com o Dia dos Professores e aí aparece um “feriadão” que pode ser bem maior se considerarmos o Dia dos Comerciários que, às vezes, entra nesse bolo. 

Só que neste ano a coisa ficou mais maluca ainda. Primeiro porque o bom é quando dia doze "cai" na segunda ou terça feira; na quinta não teve graça. Aí, para "ajudar", o que caiu foram tempestades fora de época e as aulas foram suspensas, assim como a Oktoberfest em Blumenau. Sem contar que ainda surgiu uma sexta-feira treze para assustar aqueles mais supersticiosos. Na prática ninguém aproveitou nada porque muitos estão desalojados/desabrigados e, certamente, todo mundo de "saco cheio" da inoperância do poder público em evitar que tais desastres aconteçam. Se todo mundo conhece os lugares que serão inundados, porque ainda criam cidades nesses locais? 

Haja saco!

Eu sou doc

08 outubro 2023

Rocky Balboa

"Ninguém vai bater mais forte do que a vida; não importa como você vai bater e sim o quanto aguenta apanhar e continuar lutando; o quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha." Rocky Balboa

O texto de hoje é rápido porque estou às voltas com outra antologia que outro dia eu conto (essa última palavra é quase um trocadilho) do que se trata.

Veja que sensacional: um apresentador é contratado para ir à Filadélfia filmar uma propaganda de banco com direito a subir os setenta e dois degraus do Museu de Arte da Filadélfia ao som de "Gonna Fly Now", ver de perto a estátua do Rocky Balboa e contracenar com o próprio. Vamos combinar que essa oportunidade é quase inacreditável e quem levou foi o Marcos Mion. 

Viva a MTV!

Eu sou doc

01 outubro 2023

O Cachorro

"O cachorro é um ser humano piorado" (autor, talvez, desconhecido)

O programa "Altas Horas", por vezes, tem altos e baixos. Diz a lenda que levou uma "surra" no Ibope que só não foi pior porque o Ritchie estava lá. Aí rolou especial dos Titãs, para recuperar, e ontem foi um especial com Sandy, Xororó, Roupa Nova, Vitor Kley e Thiaguinho, além de Família Lima. 

Aí vem a pergunta; precisava apelar e usar a o distrato da Sandy como chamariz?

Voltando aos cachorros. Eles são espertos, companheiros e aprendem as coisas, se você tiver paciência para dar algum agrado, quando fazem uma coisa certa, e não reclamar quando fazem alguma coisa errada. Evidente que não estou falando dos Golden Retriever bagunceiros e sim daqueles sem raça definida, como a Enola que é a cadelinha aqui de casa. 

Falando em Golden, eu li um apelo, num grupo do Facebook, de uma pessoa que precisava de instruções. Ela ganhara um "filhotinho" - os filhotes geralmente possuem quase dois metros de envergadura, do nariz ao rabo - e relatou que "a função 'moedor' não estava desligando, provavelmente travada no modo 'hard' e não parava de jeito nenhum.... já fora tapete, chinelo, camisa, bermuda, meia sapato, colar, controle remoto, ventilador..... " 

"A função 'jardineira' estaria meio desregulada pois o canteiro estava limpo, mas o problema é que as mudas de plantas agora estão no lugar errado.... elas costumavam ficar de pé no canteiro e agora estão deitadas no meio do quintal.... 

"As funções 'comer' e 'beber' estavam funcionando bem... mas a 'dormir' estava com o tempo bem reduzido.... talvez no 'mínimo'...."

Já tivemos um Golden... adestrador, castração, paciência... Doamos para um casal que tinha um sítio, com bastante espaço para correr, mas deixaram a porta da cozinha aberta e aí...

Melhor falar da Enola...

Ela é séria e não fica sorrindo o tempo todo; sabe pedir, come ração mas não enjeita um resto de comida e possui um alter ego de gato que a fez aprender a subir na mesa e comer o que encontrar no caminho desde que seja carne. Adora passear e uma distração que ela tem é ficar no parapeito da varanda observando os passantes. Ela também gosta de deitar na minha barriga.

Pois é...

Eu sou doc


24 setembro 2023

Só Primavera

Chegamos na Primavera. A coisa está tão complicada que o inverno pediu para o verão fazer seus últimos plantões. Enfim, deixo a música de Beto Guedes para aquecer os corações (do jeito que está quente, acho que ninguém quer aquecer mais nada).🥵🥵

"Só devia ser primaveraNas esquinas pelos quintaisReplantando em velhos canteirosNovas flores que ninguém viu
Só porque um vento chamado paixãoNos prometeu ainda ser furacãoDerrubar construir e decifrarSegredos da terra
Sem descanso sem despertarComo a ave que faz um ninhoVem na mão de seu caçadorSó porque existem mais coisas no ar
Que o coração jamais sonharia terSem parar de correrCriar um homem tão diferenteQue ninguém reconheceráSó porque qualquer primaveraPode ser promessa demais
Bem além do fogo que vai nos queimarIrão brilhar as luas de Júpiter e o sol tropicalPoder dançar nos olhos da fera
Bem além do fogo que vai nos queimarIrão brilhar as luas de Júpiter e o sol tropicalPoder dançar nos olhos da feraNo teu colo sonhar"
 
 
Eu sou doc

17 setembro 2023

O Guardião da Floresta

Um belo dia um sujeito acordou cedo pensando em passear, mas havia uma chuva forte que prejudicou seus planos. Resolveu, então, remexer em caixas empoeiradas, cheias de lembranças e fotos, quando uma carta, dessas de baralho, caiu no chão. Abaixou para pegar e viu que havia um desenho, em preto e branco, de uma cartomante e era assinado por “risca risca”. Enquanto pensava sobre o que era aquilo, procurando detalhes, vasculhando a mente atrás da origem daquela carta, um redemoinho o sugou para dentro do desenho. Quando, digamos, caiu, foi amparado por enormes almofadas que amenizaram o tombo. Estava numa tenda, dessas de parque de diversões, onde era possível observar uma mesa com uma bola de cristal, alguns incensos acesos, e uma decoração mista de colorido e cinza. Certo que ensandecia, resolveu sair dali e foi dar num gramado. Ao olhar para trás, a tenda desaparecera e, em seu lugar, havia um jardim e observou uma discussão de uma menina com um sujeito esquisito, baixinho, de barba verde e cabelo roxo, um desses seres que não tem definição, talvez um duende, que estava sentado num banquinho cor de abóbora, para não perder a esdrúxula combinação de cores. Aparentemente era ele que protegia o lugar.

- Para passar, precisa resolver o teste. O Mago exige!- explicou para a menina, entregando uma prancheta com algumas folhas de papel em branco e um lápis multicolorido.

Sem muito entender, primeiro ela desenhou um passarinho que tomou vida e saiu voando. Concluiu que havia uma mágica e tentou novamente com uma borboleta, conseguindo o mesmo efeito. O baixinho permanecia sério, enquanto várias imagens tomavam vida, enchendo o jardim de bichinhos que logo desapareciam. Como ele não falava nada e nem dava qualquer pista, ela pegou o lápis, desenhou uma pedra e uma tesoura, entregando a seguir para o baixinho, que sentado estava, sentado continuou. Ela, então, falou: -"Você escolhe um e eu outro". Ele escolheu a pedra que ela embrulhou com a folha de papel mágico e jogou fora. Aí sobrou a tesoura que usou fazer um recorte em forma de flor e ofereceu ao guardião! Finalmente ele sorriu, liberando a entrada.

O sujeito, então, aproximou-se antes que ela seguisse perguntou:

- Onde estamos?

- Não sei, eu estava dormindo e, de repente, “boom”! E você?

- Achei esta carta e aí “boom” também.

- Ah! A Cartomante de Papel! Ela faz isso às vezes.

- Você a conhece?

- Sim! Eu que a desenhei. Vai tentar o teste também?

Boom!


Eu sou doc

10 setembro 2023

Teoria da Conspiração

"Teoria da conspiração (também chamada de conspiracionismo) é qualquer teoria que explica um evento histórico ou atual como sendo resultado de um plano secreto levado a efeito geralmente por conspiradores maquiavélicos e poderosos, tais como uma "sociedade secreta" ou "governo sombra". Também é título de um filme de ação americano de 1997, dirigido por Richard Donner e estrelado por Julia Roberts e Mel Gibson." (Fonte: Wikipedia) 

Essas teorias costumam surgir em época de campeonatos mundiais de futebol, quedas inexplicáveis de aviões, dentre outras situações, incluindo astronautas na Lua e extraterrestres escondidos em alguma área perdida por aí. 

Aqui no Brasil essas teorias são muito usadas na política (sempre tem um golpe em curso, uma injustiça com alguns corruptos sabidos e outras situações) e, de forma mais contemporânea, como justificativa para anular decisões judiciais de primeira instância confirmadas por mais duas ou três ou sei lá quantas instâncias superiores.

Localizei uma boa definição sobre essas "instâncias" no site do Conselho Nacional do Ministério Público: " Grau da hierarquia do Poder Judiciário. A primeira instância, onde em geral começam as ações, é composta pelo juiz de direito de cada comarca, pelo juiz federal, eleitoral e do trabalho. A segunda instância, onde são julgados recursos, é formada pelos tribunais de Justiça e de Alçada, e pelos tribunais regionais federais, eleitorais e do trabalho. A terceira instância são os tribunais superiores (STF, STJ, TST, TSE) que julgam recursos contra decisões dos tribunais de segunda instância."

Esse assunto é muito chato. Vou contar uma historinha que é bem melhor, já que estou no ritmo de "Floresta Encantada".

- Por que você está aí fora nesse frio? 

Olhando para o céu, Ana assim encontrou o Mago. Ainda não era lua cheia, uma fina neblina cobria a montanha e o frio intenso, como de outras vezes, deixava um certo desconforto no ar. Apesar de agasalhados, uma esfera de calor foi providenciada pela menina, para funcionar como uma fogueirinha, que sentou a seu lado para conversar, uma das coisas que ela mais gostava de fazer. 

Ele sorriu. Estava tranquilo e sereno. Ana, sem entender muito bem sua expressão algo enigmática, sorriu também, na esperança que ele falasse alguma coisa, o que somente aconteceu alguns minutos depois. 

- Vim observar as estrelas. – ele respondeu. 

Mais intrigada ainda, olhou para o céu nublado, na esperança de encontrar alguma coisa para ser vista, mas somente nuvens enfeitavam o céu, resolvendo esperar para ver o que ia acontecer. 

Com um gesto na direção das nuvens, ele desenhou e recortou um carneirinho, que saiu correndo, dando espaço, finalmente, para que as estrelas brilhassem, a lua crescente surgisse e ambos pudessem observar o infinito. 

- Imagine, Beatriz, se tivéssemos capacidade de saber como enviar mensagens telepáticas através do vasto desconhecido? 

Começando a achar que ele andara abusando do chocolate, ela puxou pra trás seus cabelos e prendeu com um elástico, para poder prestar mais atenção às suas expressões e outras frases que ainda viriam com certeza. 

- Tente, Beatriz. Feche seus olhos e concentre-se com cada pensamento que você tiver. 

Ela fechou os olhos e ele pegou na sua mão. 

- Imagine que alguém responda a seus pensamentos; alguém que observa tudo o que tem acontecido e que também fica indignado. 

Uma luz muito forte brilhou e veio na sua direção. Mesmo de olhos fechados, o efeito foi muito intenso, com cores e luzes estroboscópicas, além de sons que pareciam vozes anasaladas. 

“- We've been observing your earth and one night we'll make a contact with you...” 

Pouco acreditando no que acontecera, sua cabeça girava e seu coração batia rápido e forte, como se estivesse numa montanha russa, logo naquele momento de descida. 

Ao fundo, um vinil na vitrola tocava Carpenters...

- Hein? Que foi? 

- Acorde, Ana. Você dormiu antes do jantar. 

- Dormi? Foi sonho? Ah! Não é possível! 

E no Brasil a situação virou pesadelo. Melhor lavar a louça do que outra coisa. Já dizia Ida Feldman.

Eu sou doc 

03 setembro 2023

Antologia

Fui elogiar o "Programa Livre", na semana passada, e olha o que deu ontem... 🤦🤦🤦

Bom... o assunto hoje é outro:

Já escrevo em blogs há muito tempo e iniciei após uma experiência bem legal com um livro que escrevi chamado "Versão Beta" e que você pode fazer o download clicando aqui.

Tenho uma ideia de fazer uma nova publicação como se fosse uma releitura, acrescentando outras ideias e corrigindo algumas coisas que ficaram para trás, mas isso é plano para mais adiante. Por enquanto eu resolvi participar de uma antologia chamada "Floresta Encantada" da Lura Editorial e os dois textos que enviei foram aprovados. 

Escolhi dentre vários que já escrevi, e adaptei para os famigerados "2500 caracteres" e isso deu um trabalho danado para não perder a ideia dos textos. Depois de algum tempo consegui concluir e hoje eu compartilho o primeiro texto com vocês. O nome é "Dançando com a Lua".

Ah! Até o dia 10 de setembro, lá no Riocentro, acontece a Bienal do Livro. É um evento obrigatório para quem mora no Rio e, quem sabe, na próxima estarei por lá falando da antologia? 

"No meio da floresta encantada existe uma casa amarela, onde mora um Mago que, outrora, fora muito poderoso; não que perdera seus poderes, mas já não era tão ágil como antigamente. Para se proteger, criou um portal de acesso à sua moradia que denominou “Fronteira Transparente”, onde havia um guardião que controlava a passagem das pessoas.

Todos que o guardião liberava eram bem recebidos. Alguns ficavam por algum tempo e assim foi com três irmãs que o Mago encontrou brincando no jardim. A mais velha, Deborah (a abelha), cuidava das menores, Ana (a Bia) e Adrielle (a Dri), enquanto elas faziam formas na areia, cobrindo com pétalas de rosa. As mãozinhas ágeis das menores (Bia devia ter uns 8 anos e Dri uns 4) criavam triângulos entre triângulos e formavam estrelas de um raro brilho, que Deborah elevou a flocos de neve (ela tinha um grande e misterioso poder). Eram fractais.

O Mago sentou numa pedra para observar melhor as formas, semelhantes e de complexidade infinita, sendo criadas, iluminando os sonhos que não seriam vistos ou as flores, esquecidas, dos caminhos percorridos. Perguntou quem eram."- Somos o que nunca aconteceu, o que foi amado e que nunca pediu o amor. O que amou, infinitamente, no universo da imaginação."

Passaram o dia e ficaram para o jantar. Logo após o anoitecer, Ana e Adrielle foram ao jardim. Seus olhinhos brilhavam ao procurar a Lua em algum lugar naquele infinito, onde outras estrelinhas haviam de brilhar também. Iniciaram, então, um rodopiar misterioso, com passinhos delicados. Pareciam estar de mãos dadas a seres invisíveis. Suas roupas iniciaram uma transformação e surgiram vestidos esvoaçantes de tecido suave, um azul e outro rosa, enquanto uma névoa absorvia os poucos feixes de luz em cores diversas e brilhantes.
Cada vez mais depressa, num ritmo musical,
pareciam multiplicadas de tão rápido que dançavam. Em dado momento, pareceu que a Lua assim entendeu, e, coberta inicialmente por um manto negro, materializou-se.

- Por que me chamaram, pequenas elementais?
-
Queríamos companhia para dançar!

Convite aceito, a Lua tirou seu manto, mostrou todo seu esplendor e dançou!

Dessa forma é que se dança sob a luz da lua: misture as cores, os contrastes e os brilhos; envolva tudo em sentimentos. O que importa é ser grandioso, maior do que se possa alcançar; deve ser livre e real; deve ter o poder de mudar tudo o que se sente; pode até ser sombrio, mas tem que ser verdadeiro. E, quem sabe, isso deve ser amor."


Eu sou doc


27 agosto 2023

Que fim levou?

Há muitos e muitos anos a televisão aberta apresentava programas interessantes que promoviam a cultura nacional ainda em criação. A Jovem Guarda foi um grande março musical e abriu as portas para inúmeros artistas de talento que só precisavam "daquela canção que disparava os nossos corações"

Muitos programas desenvolveram essa e outras formas culturais e vou destacar o "Perdidos na Noite", o "Caderno Teen" (que tive a chance de participar duas vezes) e o "Programa Livre" que fará parte do tema de hoje.

Antes da "globalização", que exige uma forma, digamos, comercial de fazer uma coisa, Serginho Groisman comandava seu programa num final de tarde e ficou conhecido por ser um espaço na TV onde os jovens entrevistavam personalidades como políticos e artistas e debatiam com eles temas muitas vezes polêmicos ("Fala garoto!"). Só que havia um grande desrespeito com o profissional e em abril de 1998 "... por acúmulo de várias produções com gravações em andamento, Silvio Santos pede a Serginho Groisman (foto) que libere o estúdio onde seria feita a atração. Com isso, o "Programa Livre" foi exibido diretamente da portaria do CDT Anhanguera."(fonte SBTpedia - eu vi esse programa na TV). Dizem que isso precipitou a saída do apresentador da emissora, migrando para o limbo durante um bom tempo e depois para o final da noite com um programa bem diferente.

Há algumas semanas, a nova/velha atração ,chamada "Altas Horas", tenta recuperar o cunho cultural. Sem ter que apresentar artistas sem talento, influenciadores que nada acrescentam, ou participantes de "reality shows", encontramos pérolas como tributos a Rita Lee (RIP), o próprio Milton Nascimento e alguns "sumidos" como Peninha, Biafra, Wanderlei Cardoso, Martinha, Os Incríveis, Golden Boys, Trio Esperança e sei lá mais quem, alguns com seus filhos, também bons artistas, e outros só para lembrar os velhos tempos. É muito bom saber o tal do "que fim levou" dessa turma de qualidade e que deixa um legado seguido por seus descendentes e alguns novos talentos que foram inspirados por eles.

Só que o melhor "que fim levou de hoje" é o meu pai. Ontem ele completou 98 anos, está lá "mandando brasa" e ainda me deu uma informação que em 1967 ele completou 25 anos de trabalho nas "Tintas Ypiranga" (essa já não existe mais) e ganhou um relógio (essa história eu conto outro dia).

Fica aqui a minha homenagem a um grande homem, que está lá em Rio das Flores , recebendo a visitas para contar as coisas dos antigos tempos e dos novos tempos também, pois ele atualiza tudo diariamente ouvindo os telejornais da noite (o homem sabe de tudo).

Parabéns, Papai.

Ah! E se o leitor conhece os artistas citados ,também recebe os parabéns por sua idade avançada.

Eu sou doc

20 agosto 2023

A Máquina do Tempo

 🎼"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim"🎶           

Quem nunca? Todo mundo já jogou fora aquelas lembranças, incluindo a primeira edição de algum gibi e que hoje vale uma fortuna , que não tinham mais importância.

As lembranças nos levam à saudade que, já foi dito, "é um elogio ao passado". Imagina poder voltar no tempo? Será que valeria a pena? Melhor seria o futuro?

"A Máquina do Tempo" é um romance de ficção científica escrito por H. G. WELLS em 1895 e que já teve duas versões para o cinema com muitos acréscimos até bem interessantes.

"A edição da DarkSide® Books (conforme encontramos no site e que reproduzo aqui) viaja ao passado ao homenagear a capa da primeira edição do livro, publicado em 1895 na Inglaterra, e ao apresentar um rico panorama traçado pelo organizador desta obra, Enéias Tavares, em sua introdução. Desponta no presente, ao trazer as ilustrações inéditas de Pedro Franz para o livro e reverenciar o talento de quatro autores contemporâneos, convidados a ofertar em forma de conto sua versão de passeio pelos tempos. Assim, Aline Valek, Ana Rüsche, Braulio Tavares e Felipe Castilho levam o leitor para lugares (e épocas) nunca antes imaginados."

Além da história, encontramos um conteúdo filosófico que deixa a obra com caráter atemporal. Mesmo para quem viu os filmes a leitura é insubstituível.

Para você que gosta de ler tenho algumas avaliações que você pode acessar aqui e aqui

Ah! Só para lembrar: a louça é o futuro da refeição!🤪

Eu sou doc 

13 agosto 2023

Conto do Dia dos Pais

Leo e Mônica começaram a namorar ainda no ensino médio. Na faculdade fizeram cursos diferentes,  mas algumas matérias eram comuns e eles tinham aulas juntos. 

Num belo dia, a professora de “relações humanas”, que já discutira relação entre mãe e filhos, irmãos, avós e todos os membros da família, resolveu discutir um texto, encontrado na Internet, que falava sobre o “pai participativo”, aproveitando a proximidade do Dia dos Pais. Era um texto do tipo “morde e assopra”, onde as ideias ficaram diluídas e as opiniões da classe ficaram muito divididas. 

Boa parte achavam que o pai somente tem que "estar lá", para qualquer necessidade, algo do tipo “plano B”, mas o “osso” do dia a dia era da mãe mesmo.

Como já era de se esperar, a discussão descambara para terrenos pantanosos e a professora torcia para que tocasse o sinal de fim da aula, o que aconteceu a seguir (foram quarenta minutos intermináveis!). 

Na saída da sala, Mônica ironizou:

- E você, Leo? Vai ser participativo ou só vai querer jogar bola e tomar cerveja, enquanto eu esquento no fogão e esfrio no tanque? (ela riu, disfarçando)
- Vou ser igual ao meu pai. Ele é legal! 
- Então veremos isso daqui a oito meses! 
- !!!!!!!!!!!!!!!!! 

Bom, eles casaram e a gravidez inesperada gerou bons frutos: além da filha (claro), Mônica fez as pazes com o pai (tinha uma treta que agora não vem ao caso) que ofereceu o gerenciamento de sua pousada para Leo. O estabelecimento ficava numa dessas ilhas (que na verdade são bairros) com uma infraestrutura básica, onde as pessoas andam a pé, de bicicleta ou de carrinhos elétricos de aluguel, pois veículos automotivos a gasolina/diesel/álcool são exclusivos dos serviços públicos (salvo os barcos, evidentemente). O casal também ganhou uma casa, próxima ao trabalho, que era modesta, mas tinha um jardim com várias flores e uma cerca viva de jasmins. Aliás foi essa a origem do nome da menina. 

Bom... não pense o leitor que morar em ilha paradisíaca não traz alguns problemas. No dia do parto caiu uma tempestade, as comunicações com o continente foram interrompidas, assim como qualquer tipo de transporte (talvez um submarino resolvesse...). Mônica começou a sentir as contrações perto da hora do almoço, mas “segurou a onda” (já que não tinha outro jeito) até que, lá pela meia noite... 
- Leo, acorde! A bolsa rompeu. 
- Fique tranquila, Mônica! A tempestade já parou, pegaremos a barca das quatro horas e dará tempo de chegarmos ao hospital. A médica falou que primeiro filho demora. 
- Demora o caralho porra nenhuma nada! Já estou com uma dor filha da puta enorme há horas e agora acho que nasce!!

Nessa descrição vou pular os detalhes mórbidos da confusão, como o banho de lama que Leo tomou ao tentar livrar a ambulância de um atoleiro, a cara de espanto da acadêmica bolsista, que estava de plantão no único posto de atendimento médico da ilha, ao chegar na casa e ver que Alcione (a cozinheira da pousada que também era parteira nas horas vagas) tinha resolvido a situação (“dona Mônica fala muito palavrão, né seu Leo 🤣🤣🤣")
Ainda houve  o “piti” homérico da mãe da Mônica, quando soube do ocorrido (naturalmente criticando o ex-marido, mas isso foi devidamente relevado, já que era costumeiro). Tudo isso, hoje, é motivo de incontáveis histórias que foram registradas num diário, para quando Yasmin estiver mais velha. 

Após o almoço de domingo, onde estavam os pais de Leo, trazidos por seu sogro, e os padrinhos, Eduardo e Bia, Mônica saiu um pouco para amamentar e Bia foi atrás. Para Leo, era o seu primeiro almoço de dia dos pais (como o próprio), e Yasmin usava uma camiseta com os dizeres “Meu Pai, Meu Herói” (isso não precisa muita explicação). 

- Como Leo está se saindo, Mônica? 
- Melhor que a encomenda! - ela riu. 
- Espero que Eduardo seja assim também, bem diferente do que aquele texto do “pai participativo”. 
- Quer saber, Bia? Que se fodam danem esses pseudointelectualóides que escrevem essas coisas. Pai é pai, mãe é mãe, são pra sempre, cada um faz a sua parte e os filhos que entendam isso. O amor será incondicional independente do que eles possam pensar. Eu aprendi isso e espero que todos os filhos por ai aprendam também! 

Feliz Dia dos Pais!
(adaptação dos textos "Conto do Dia dos Pais" e "O Primeiro Dia dos Pais". Os originais podem ser acessados aqui)


Eu sou doc

06 agosto 2023

Paixão e Fé

🎼"Deixar a sua luz brilhar no pão de todo dia
Deixar o seu amor crescer na luz de cada dia
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser muito tranquilo
O brilho cego de paixão e Fé, faça amolada"🎶

A ideia não é falar de Milton Nascimento e Beto Guedes, mas achei o trecho muito interessante para o texto de hoje.

Seguindo no tema "gerenciamento", resolvi contar três histórias:

Durante uma inundação, um sujeito ficou preso no telhado de sua casa, sem chances de escapar. Levantou suas mãos para o céu e pediu que o deus da sua crença o salvasse. Pouco tempo depois surgiu outro sujeito, num barco a remo, oferecendo transporte, mas a resposta recebida foi: "meu deus irá me salvar". Mais adiante surgiu outro sujeito, num jet ski, oferecendo ajuda e recebeu a mesma resposta. Na sequência veio um helicóptero, um submarino (a enchente era grande), o Aquaman, o Chapolin Colorado e a resposta não se modificou.

Numa outra história, uma criança foi atropelada e levada ao pronto socorro. Enquanto aguardava a cirurgia, o pai da criança levantou suas mãos para o céu, pediu que o deus de sua crença curasse a criança e só não impediu o procedimento (ele acreditava que a criança já estava curada de forma milagrosa) porque foi detido pela polícia (tentar ele tentou, mas esbarrou num médico mais "determinado", por assim dizer).

Falar de fé e religião é muito complicado e vou usar o que acredito, mas de uma forma mais lúdica. Na primeira história, Deus receberia um e-mail (essa ideia eu tirei do filme "Todo Poderoso") com a problemática, determinaria a solução (chamaria um anjo treinado em dilúvios), mas vimos que não deu certo porque esbarrou no "livre arbítrio": o que o sujeito queria era um salvamento milagroso, parecido com aqueles que aparecem nos filmes, e aí morreu porque não entendeu a ideia do Senhor.

No segundo caso, depois da cirurgia (o baço estava rompido e foi retirado), o tal "médico determinado" foi conversar com o pai da criança (que estava desiludido com sua crença) e explicou: "o deus da sua crença evitou que seu filho morresse no local, determinou que logo fosse levado ao hospital, fez com que houvessem médicos (inclusive anestesistas) para resolver o problema e partiu para outras necessidades de outras pessoas. Entende agora como a coisa funciona?"

A terceira história eu contarei de forma diferente...

Um anjo do Senhor foi à Sua presença:
- Temos um problema. Mais uma criança com cardiopatia congênita.
- Isso já não é problema há muitos anos. Logo depois que nasce, nas consultas de rotina, é feito o diagnóstico e tudo se resolve. É só susto.
- Mas ela já tem nove anos e ainda ninguém desconfia do problema. Os médicos eram ruins.

Então, usando sua sabedoria, Ele determinou que a prima da criança recebesse a inspiração de pedir para seu pai, aquele "médico determinado", que examinasse a menina, durante uma brincadeira de uma tarde de domingo. Feito o diagnóstico, muita correria (que ficou por conta da tia da menina, esposa do médico, mãe da priminha que recebeu a inspiração, e que era mais determinada ainda) e tudo se resolveu.

Sabedor do bom desfecho, chamou aquele anjo especialista em dilúvios para começar o planejamento do destino desses médicos ruins que não estudam, não examinam e tratam as pessoas com descaso.

Precisa de desenho?


Eu sou doc 

Money

"🎼🎶Money, so they say, is the root of all evil today  🎶" Pink Floyd Desde sempre, os comerciais na TV aberta são uma chateação,...