13 agosto 2023

Conto do Dia dos Pais

Leo e Mônica começaram a namorar ainda no ensino médio. Na faculdade fizeram cursos diferentes,  mas algumas matérias eram comuns e eles tinham aulas juntos. 

Num belo dia, a professora de “relações humanas”, que já discutira relação entre mãe e filhos, irmãos, avós e todos os membros da família, resolveu discutir um texto, encontrado na Internet, que falava sobre o “pai participativo”, aproveitando a proximidade do Dia dos Pais. Era um texto do tipo “morde e assopra”, onde as ideias ficaram diluídas e as opiniões da classe ficaram muito divididas. 

Boa parte achavam que o pai somente tem que "estar lá", para qualquer necessidade, algo do tipo “plano B”, mas o “osso” do dia a dia era da mãe mesmo.

Como já era de se esperar, a discussão descambara para terrenos pantanosos e a professora torcia para que tocasse o sinal de fim da aula, o que aconteceu a seguir (foram quarenta minutos intermináveis!). 

Na saída da sala, Mônica ironizou:

- E você, Leo? Vai ser participativo ou só vai querer jogar bola e tomar cerveja, enquanto eu esquento no fogão e esfrio no tanque? (ela riu, disfarçando)
- Vou ser igual ao meu pai. Ele é legal! 
- Então veremos isso daqui a oito meses! 
- !!!!!!!!!!!!!!!!! 

Bom, eles casaram e a gravidez inesperada gerou bons frutos: além da filha (claro), Mônica fez as pazes com o pai (tinha uma treta que agora não vem ao caso) que ofereceu o gerenciamento de sua pousada para Leo. O estabelecimento ficava numa dessas ilhas (que na verdade são bairros) com uma infraestrutura básica, onde as pessoas andam a pé, de bicicleta ou de carrinhos elétricos de aluguel, pois veículos automotivos a gasolina/diesel/álcool são exclusivos dos serviços públicos (salvo os barcos, evidentemente). O casal também ganhou uma casa, próxima ao trabalho, que era modesta, mas tinha um jardim com várias flores e uma cerca viva de jasmins. Aliás foi essa a origem do nome da menina. 

Bom... não pense o leitor que morar em ilha paradisíaca não traz alguns problemas. No dia do parto caiu uma tempestade, as comunicações com o continente foram interrompidas, assim como qualquer tipo de transporte (talvez um submarino resolvesse...). Mônica começou a sentir as contrações perto da hora do almoço, mas “segurou a onda” (já que não tinha outro jeito) até que, lá pela meia noite... 
- Leo, acorde! A bolsa rompeu. 
- Fique tranquila, Mônica! A tempestade já parou, pegaremos a barca das quatro horas e dará tempo de chegarmos ao hospital. A médica falou que primeiro filho demora. 
- Demora o caralho porra nenhuma nada! Já estou com uma dor filha da puta enorme há horas e agora acho que nasce!!

Nessa descrição vou pular os detalhes mórbidos da confusão, como o banho de lama que Leo tomou ao tentar livrar a ambulância de um atoleiro, a cara de espanto da acadêmica bolsista, que estava de plantão no único posto de atendimento médico da ilha, ao chegar na casa e ver que Alcione (a cozinheira da pousada que também era parteira nas horas vagas) tinha resolvido a situação (“dona Mônica fala muito palavrão, né seu Leo 🤣🤣🤣")
Ainda houve  o “piti” homérico da mãe da Mônica, quando soube do ocorrido (naturalmente criticando o ex-marido, mas isso foi devidamente relevado, já que era costumeiro). Tudo isso, hoje, é motivo de incontáveis histórias que foram registradas num diário, para quando Yasmin estiver mais velha. 

Após o almoço de domingo, onde estavam os pais de Leo, trazidos por seu sogro, e os padrinhos, Eduardo e Bia, Mônica saiu um pouco para amamentar e Bia foi atrás. Para Leo, era o seu primeiro almoço de dia dos pais (como o próprio), e Yasmin usava uma camiseta com os dizeres “Meu Pai, Meu Herói” (isso não precisa muita explicação). 

- Como Leo está se saindo, Mônica? 
- Melhor que a encomenda! - ela riu. 
- Espero que Eduardo seja assim também, bem diferente do que aquele texto do “pai participativo”. 
- Quer saber, Bia? Que se fodam danem esses pseudointelectualóides que escrevem essas coisas. Pai é pai, mãe é mãe, são pra sempre, cada um faz a sua parte e os filhos que entendam isso. O amor será incondicional independente do que eles possam pensar. Eu aprendi isso e espero que todos os filhos por ai aprendam também! 

Feliz Dia dos Pais!
(adaptação dos textos "Conto do Dia dos Pais" e "O Primeiro Dia dos Pais". Os originais podem ser acessados aqui)


Eu sou doc

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